quinta-feira, 29 de junho de 2017

SAIA DA VIDA PASSADA, CORRA PARA A VIDA PRESENTE!



Afinal, existe vida passada ou não? Me perguntam... Acho que essa não deveria ser a questão. O mais importante é saber: afinal, onde você vive, lá ou aqui? Quantas justificativas e desculpas em busca de argumentos para não encarar o medo, bloqueio e fracasso do AGORA. Criam-se mitos e enredos sobre o passado como se isso bastasse. Dá-se mais importância para o passado do que para o presente. Está vivo para o que foi e morto para o que é.

É perigoso não VOLTAR de lá com a regressão? Outra pergunta... Essa é mais inquietante que a primeira. Ora, se você se queixa do seu passado, você já está lá e não aqui. O que precisa é voltar para cá o mais rápido possível. Quem acha que seu problema é de vida passada já está preso nisso e o verdadeiro risco é continuar onde não deveria estar. O único lugar para se viver é o momento presente e você só tem o agora para existir viver, escolher, fazer diferente. Se perder essa oportunidade, será tarde. Mais prisão mental, emocional, psíquica. Menos alegria, prazer, satisfação, gratidão.

Será mesmo que o que te impede de viver o agora é sua vida passada? Isso faz sentido para você? Se fizer, é isso que vai acreditar e perseguir. E cada encontro seu com o passado pode ser uma boa razão para o seu EU passado continuar vivo, cheio de historinhas para contar. E talvez você estufe o peito e diga: eu já sabia! Ora, que vantagem tem de recriar? O que está ganhando? Pense no prazer negativo associado ao sofrimento e todo ganho secundário obtido. Essa é uma boa pista de onde vem tanta energia para continuar a ladainha.

Já reparou como é difícil esse EU morrer? Esse eu agarrado a um enredo de vida qualquer, seja de sucesso ou fracasso, perdas ou ganhos, felicidade ou tristeza? Já percebeu quantas vezes conta para si e para o mundo sobre aquele seu antigo amor e o que ele fez com você? Então, veja como há algo que RESISTE a esse passado e não o deixa ir embora. É exatamente isso que acontece com qualquer resíduo cármico de vida passada. Algo que não se deixa esgotar, ir, diluir, dissolver no todo. Enquanto houver a sua resistência e apego para deixar ir, essa memória continuará existindo para você, mesmo que seja no nível inconsciente, reverberando no campo, ressoando uma frequência e te alcançando onde estiver. Algo como ondas no mar.

Então, de novo, o mais importante não é saber exatamente o que você viveu. A questão é: por que você não deixar ir?! Por que sua história é tão importante para você? Por que você faz questão de repetir isso tantas vezes? Quem você seria sem essa historinha na sua cabeça? Se esse EU morresse, o que sobraria? Dá para viver sem ele? Dá para existir depois disso? O que vai contar para os outros e para si depois que morrer? Morrer para seu drama pessoal, para sua importância ou falta dela, para seus conflitos e dúvidas, para suas perguntas sem respostas, para suas coisas, seus títulos, currículo, conquistas, bandeiras, lutas. Consegue deixar ser o que é, sem retoques e exigências?


Saia da vida passada, corra para a vida presente!!! Olhe para seus potenciais, suas qualidades e possibilidades. Veja o outro e o mundo da mesma forma, com outra lente. Faça diferente, experiente elogiar ao invés de reclamar. Dizer eu estou feliz ao invés de dizer que tá difícil. Vai fazendo isso e experimenta o que acontece. Tenho certeza que estará mais vivo e menos morto. E alguém mais vivo é bem mais interessante. Se curta, a vida é curta!

domingo, 6 de novembro de 2016

À ESPERA DE UM MILAGRE....



Salvar o casamento, tirar o filho das drogas, curar uma doença, sair do vermelho, encontrar a princesa encantada... Milagres e milagres, são tantos e tão variados. Sempre buscando soluções mágicas, rápidas, que nos tirem do buraco sem muito esforço. Vamos nos iludindo e criando mecanismos de fuga, alienantes, limitantes. Subterfúgios, muletas, distrações, num jogo de vale tudo para não pagar o preço.

E o caminho espiritual muitas vezes se descortina como boa alternativa para explicar o óbvio, mas que não é visto. Afinal, ficar com a responsabilidade não é lá tão fácil de engolir. Melhor que a culpa seja do outro, da crise ou do obsessor... Quem vai saber? Ora, se te acontece algo, de quem seria a responsabilidade? Tão evidente, tão claro. É preciso ter coragem para admitir que seja assim. Aqui começa o verdadeiro milagre!

Eu contrariei a lei, nesta ou em outra vida, por essa razão estou aqui, neste lugar, vivendo essa experiência. O mesmo acontece quando vivemos momentos maravilhosos, gratificante. Merecimento, em decorrência de pensamentos, palavras, ações. O surgir e o desaparecer de todas as coisas é dinâmico, cíclico, ininterrupto. A todo momento criamos e recriamos nosso carma. Escrevemos é reescrevemos a nossa história. Melhor que se seja de maneira consciente, a nosso favor e em benefício de todos. Outro milagre: pensar não só em si, mas também no outro.

Olhar no outro e ver não apenas o outro em suas dificuldades e sofrimentos. Ver também sua história e seu caminho percorrido até aqui. Ter tolerância e aceitar que as coisas não surgiram num estalar de dedos e também não vão desaparecer dessa forma. É um processo e cada um tem seu passo, seu ritmo, sua escolha, sua urgência de mudar ou não. Dizer, quem sabe, eu te vejo na sua dor e te respeito mesmo sendo assim, mesmo não gostando disso, mesmo querendo que seja diferente. Que milagre!


O milagre é estar vivo, é ter possibilidade de escolher diferente, a cada dia, a cada instante. As coisas são como são, o mundo é como é, as pessoas são assim. Aceitar isso é um milagre, se amar, se respeitar, aceitar o outro, fazer diferente, escolher diferente, mudar, parar de reclamar, agradecer, isso é milagre. Viva esse milagre em sua vida, aqui e agora.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016


OS MORTOS ESTÃO AQUI

Os que já partiram estão mais presentes do que nunca. Apenas invisíveis, eles continuam presentes em nossas mentes, ações e corações. Quando fazemos algo ou falamos sobre convicções, nem sempre isso tem a ver conosco. Muitas vezes estamos repetindo o padrão de crenças de nossos ancestrais. Para nos mantermos leais a eles e pertencermos ao clã, copiamos e seguimos os destinos dos que já foram. Mesmo sem saber, mesmo sem conhecer, isso não importa. A alma do clã é maior que tudo isso e atua no nível inconsciente.

Deixar o passado no passado tem a ver com nossa necessidade de auto suficiência, como se isso garantisse autonomia e individualidade. Mas somos muito mais que meros passageiros de algum trem. Somos coletivos, múltiplos, interconectados com tudo e com todos. O sistema familiar fala por si só. Não requer autorização expressa de seus membros. Tem autonomia e movimento próprio e estamos sujeitos a ele. Apenas o seguimos por meio de forças invisíveis, de extrema potência. Aceitemos, portanto.

Seguir os mortos nos seus destinos é como correr no fluxo do rio. Tão natural quanto se entregar à correnteza mansa. Acontece que, muitos destinos trágicos e difíceis também são seguidos. O movimento sistêmico mostra isso claramente nas constelações familiares. Não há julgamento que separe isso ou aquilo, certo ou errado, pesado ou leve. Identificados com algum membro da família, o seguimos por amor. A individualidade não prevalece, o todo prevalece. Queremos estar juntos, pertencer, fazer parte, honrar e incluir, qualquer que seja a situação, sem o mérito do julgamento. Dar um lugar a todos, esse é o movimento do amor na família.

Geração após geração, essas informações são transmitidas e repetidas, reforçando-se em si mesmas. Como uma identidade coletiva, criamos e recriamos esses vínculos ancestrais e nos mantemos leais a eles. Os emaranhamentos sistêmicos são os resultados dessas dinâmicas ocultas entre os membros das famílias. Ocupamos lugares, tomamos partido, nos vinculamos emocionalmente, sempre movidos por necessidades que vão além de interesses pessoais. Estamos à serviço de algo maior, do equilíbrio do sistema por um todo, em busca da tão sonhada paz para os que foram e os que ficaram.

Honrar os que partiram em seus destinos e escolhas. Respeitar suas vidas, reconhecer que foi assim. Perceber o lugar que ocupamos nessa trajetória e deixar cada coisa no seu devido lugar, sem a pretensão de corrigir, salvar, melhorar. Dar um lugar no coração a cada um, olhar para frente e seguir adiante, fazendo da vida uma bela homenagem aos que já partiram. PALESTRA: O SISTEMA FAMILIAR E SUAS LEIS

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

CINCO COMPROMISSOS DA MENTE GRANDE



Nosso cérebro é ancestral, muito antigo, condicionado e programado. Praticamente todo pensamento é velho. Nada fresco e novo surge desse padrão mental. Essa é a mente pequena, voltada para o pensado, o feito, o já visto e revisto. Pensar o pensado é repetir o repetido. Vidas e vidas, uma após outra, recriando as velhas e antigas dores da alma. Roda de Samsara, ciclos infinitos de renascimento e morte. É muito difícil mudar com uma mente assim.

Com a mente pequena, a vida é pequena e as coisas se repetem desde onde estão. Não se pode mudar um destino se a mente, que dá origem à ação, permanece a mesma. E a mudança da mente não é algo simples de acontecer, uma vez que não foi simples tornar o que ela é. Foram muitos e muitos condicionamentos e hábitos arraigados, repetitivos, compulsivos. A mente-macaco, que pula de galho em galho, é ávida por agarrar as coisas, por isso não tolera o silêncio e a inércia. Quer sempre ter uma função: pensar, se ocupar, se preocupar, ansiando por mais e mais acúmulo de coisas, pensamentos, opiniões objeções.

Deter essa mente ancestral, com tamanha complexidade, fixidez, rigidez, requer boa dose de vontade e disciplina. Domar a mente-macaco é coisa pra gente grande, ou melhor, pra mente grande! Substituir o velho pelo novo, fazer uma troca inteligente. Ao invés de pensar negativo e criar carma negativo, pensar positivo e criar carma positivo. Não esperar para fazer isso nem mais um minuto. Não perder tempo pois nada pode ser mais urgente. Não temos outro dia, somente o agora. Não temos outra vida para começar, nem sabemos quando isso seria. Aproveitar cada minuto, cada instante de plena atenção e começar a modelar a mente, o padrão mental, até construir um novo hábito, um bom hábito, em seu próprio benefício.

Um compromisso diário, durante a vida toda, pode ser uma âncora fantástica para desinstalar programas mentais doentios e instalar comportamentos mentais saudáveis. Comece seu dia com esse compromisso e o reforce a cada dia até que se torne um hábito, automático, instantâneo, até que não exija esforço, até que flua naturalmente, até que se torne sua natureza primordial. É simples, basta plena atenção. Observe seus pensamentos logo que surgirem e, sem analisar, tentar deter ou subjugar, apenas os substitua por outros de natureza positiva, imediatamente. E reafirme para si mesmo esses cinco compromissos da mente grande:

1º. Comprometo-me: ao invés de julgar, vou elogiar.

2º. Comprometo-me: ao de reclamar, vou agradecer.

3º. Comprometo-me: ao invés de me sentir culpado(a), me julgar, me recriminar, vou me aceitar e seguir adiante.

4º. Comprometo-me: ao invés de me sentir triste, desanimado, melancólico, depressivo, vou relembrar de razões para me sentir alegre, confiante, determinado, entusiasmado.

5º. Comprometo-me: ao invés de cair nas armadilhas das distrações, fugas, desperdício de tempo e dispersões de toda natureza, que não me levam a lugar algum, vou me manter focado na coisa mais importante da minha vida. Somente eu posso fazer isso por mim!

Se sua vida fosse acabar daqui 15 minutos, qual seria a coisa mais importante? Ao responder sinceramente, vai entender com que urgência deve se ocupar.









PALESTRA: O CAMINHO ESPIRITUAL E SEUS DESAFIOS

segunda-feira, 30 de março de 2015

QUANDO SERÁ A MINHA VEZ?





Mais uma vez alguém passa na minha frente, pega a minha vez e eu congelo. Um misto de orgulho e complexo de inferioridade se misturam dentro de mim. Ao mesmo tempo eu abro mão achando que o outro precisa mais, que eu estou bem e posso ficar sem; por outro lado estou sofrendo, querendo receber, ser vista, ser cuidada, ser respeitada.

De tanto repetir esses comportamentos e atitudes em vários contextos na vida, chegou um momento em que algo aflorou tempestivamente e me deparei com a pergunta: quando será minha vez? Isso foi intrigante pois nem ao menos me dava conta que estava atuando assim na vida e que essa era a resposta condicionada que eu dava frente às minhas necessidades. Responder abrindo mão, sem lutar, sem reivindicar, sem me colocar no meu lugar e respeitar isso.

Criada pela avó que já tinha muitos filhos, certamente eu era vista como mais uma dentre tantos. Habituei-me a me virar sozinha frente às minhas necessidades e fui crescendo achando que tinha que dar conta de mim mesma e que não adiantava pedir. Era a minha realidade e desenvolvi o mecanismo de auto defesa para lidar melhor com as fragilidades que surgiam. Isso foi se transformando aos poucos em couraças, em pontos de congelamento no corpo e nas emoções e passei a elaborar meus sentimentos e reações de maneira mental e estrutural. Era como me via e me percebia.

Suplantando minhas necessidades, voltei-me para o outro e o foco passou a ser a dor alheia. Era um convite para ver mais o outro do que eu mesma. E fui seguindo, aparentemente tudo estava indo bem, como um dom e uma habilidade que tinha e era natural seguir. Sim, essa habilidade existe, não resta dúvida, mas algo ficou esquecido, não visto. Meu trabalho é o grande laboratório que me permite olhar no espelho muitas vezes e isso é maravilhoso. Mais uma vez, por essa lente de me ver no outro, pude perceber claramente aquilo que eu estava me negando, não me permitindo.

Por outro lado, a vida proporcionou-me na medida da minha abertura. Como a defesa era grande e eu achava que não precisava tanto, foi isso recebi. Muitas e muitas vezes passaram na minha frente, tiveram aquilo que eu queria ter. O condicionamento foi o de desenvolver mecanismos compensatórios. Não tinha o que queria, mas tinha algo melhor, mais profundo, mais valioso e por aí vai. O velho e conhecido complexo de superioridade, disfarçado em justificativas. Fiquei assim, justificando e dizendo: eu não preciso disso, tem algo melhor e mais profundo ali na frente. Mas no fundo no fundo queria sim o pirulito, e dai? Quero o pirulito, como todas as outras crianças querem e pulam na frente, agarram o que acha que merecem e seguram na mão dizendo: isso é meu! Aliás, tinha até implicância com gente assim. Claro, eu não conseguia fazer o mesmo.

Enquanto a vibração interna reflete a auto suficiência, o mundo responderá na mesma medida. É uma questão lógica. As coisas vão para quem vibra, pede, quer, gosta, deseja, persegue. Não há o que reclamar. Não tem ninguém contra você, nem as pessoas, nem as hierarquias, família ou o mundo. Se a crença diz: eu não preciso, o outro precisa mais, eu dou conta sozinha - a existência responde que seu desejo é uma ordem. Simples assim. É necessário aprender a pedir, colocar-se no lugar de recebedor, de eu mereço, eu posso, eu quero, eu exijo, eu sou. Fazer parte da grande onda de dar e receber, pois ninguém subsiste muito tempo apenas dando. Isso causa desequilíbrio na ordem. O Ser pleno precisa dessas duas formas atuando para que o sistema se mantenha equilibrado e não existam compensações futuras para tapar o buraco daquilo que ficou faltando.

É a minha vez! Não apenas dizer, mas vibrar internamente isso. Para que os outros percebam claramente, respeitem e abram espaço. Mas essa autorização é interna, não é um conceito teórico. Precisa sentir de verdade e se colocar nesse lugar. O orgulho deve ceder para isso acontecer. Nem o complexo de inferioridade deve atuar. Apenas a realidade em si mesma, pois necessidades humanas são naturais e cada um tem as suas vulnerabilidades, suas feridas, suas dificuldades. Descer do lugar que se colocou um dia por causa do medo de pedir e não ser atendido, medo do abandono e rejeição, medo das subjugações e humilhações. Quem já não passou por isso na vida? Uns mais, outros menos, na medida da necessidade de mudança de cada um. Não é vergonha admitir. Estamos juntos no mesmo barco, cada um quer curar sua ferida de alma. Nisso somos tão iguais e Somos Todos Um. É bonito, consolador, verdadeiro, real, humano. Não há beleza maior que o senso de ser humano, de ser sensível, de sentir, de se perceber em todas as instâncias.

Nesse fluxo amoroso de não se ver separado do outro, é possível dizer de verdade: esse pirulito é meu, é a minha vez, essa vaga é minha, esse lugar é meu!

segunda-feira, 2 de março de 2015

MUDAR DE VIDA AOS 40 ANOS



Quando fiz 40 anos disse para mim: a outra metade da minha vida vou fazer o que vim fazer. Foi o melhor decreto que fiz. Agora, pretendo ir além da outra metade da vida, lá pelos 96 anos...

Mudar de vida depois dos 40 é um mito. Para muitos, algo impossível. Mas nada é impossível quando a alma não é pequena. Nossa vida é do tamanho da nossa mente. E a gaiola em que vivemos é do tamanho do nosso medo. Nem sempre a gaiola está com a porta fechada e podemos voar quando quiser. Acontece que inventamos portas e cadeados invisíveis, cheios de argumentos e teorias para justificar nossas limitações. Quando justifica muito, é sinal que a verdade está longe. Esse é um bom parâmetro para medir o quanto a situação pede mudança.

Era bancária, estava infeliz e não me via fazendo a mesma coisa nem um ano a mais. O futuro no banco era um vazio para mim, sem brilho, sem perspectiva, sem sonho. Já percorria o caminho de autoconhecimento há algum tempo e quanto mais olhava para dentro, menos conseguia mentir sobre isso. Não conseguia fugir da realidade que o momento sinalizava. Ou é agora, ou nunca! Foi impactante, um marco, um divisor de águas. Saí do banco, pedi demissão e saltei no escuro. Sabia que queria trabalhar com cura e ponto. O quê, exatamente, era uma interrogação. Comecei do ponto zero, como uma folha em branco e escrevi outra história.

Nessa entrega, caí nos braços generosos da providência e fui acordando o adormecido, me recordando e gostosamente me sentindo em casa. Era um sinal que o caminho estava aberto: a sensação de estar em casa, de fazer aquilo sem esforço, com leveza e amorosidade. Acredito que seja a entrega que os mestres se referem: sem controle, sem garantias, sem certezas. Não é algo irresponsável ou coisa assim. É uma certeza desconhecida e uma força inexplicável que permeia tudo. Ao mesmo tempo olhando para fora é incerto, algo dentro diz que o caminho é esse. Isso eu chamo de fé. Quem está de fora diz que você está louco, mas você sente que é o momento de maior lucidez de sua vida.

A cura que fazia parte de um projeto se tornou um processo. Começou dentro de mim, claro. E esse é o caminho de todos nós. Queremos nos construir, nos tornar, vir a ser. Mas tem tanta coisa guardada no baú precisando de limpeza, que a transformação não acontece. Ficamos colecionando coisas e frases de efeito, mas a dor continua ali, machucando onde tem que machucar. Então cansei de chorar e um dia decidi, vou me liberar disso! Chega de recriar esse sofrimento. Esse decreto bastou. A decisão de escolher e não olhar mais para trás. Ponto zero de agora em diante. Uma vez a página virada, os capítulos mudaram o rumo da história. Costumo dizer que tive duas vidas em uma vida. Quanta coisa nova a partir de uma escolha. Um novo rumo, novo roteiro, valores, visão de mim mesma e do outro.

Eu precisava saltar no escuro. Esse era o preço. Achei justo para uma pessoa medrosa e acomodada, que queria garantias de que o risco seria mínimo. A vida pede mais, só isso que tenho a dizer. Foi uma lição e hoje agradeço o que a vida me pediu. Soltar muletas, acomodações, regras, repetições. Sair da zona de conforto, fazer diferente. Abrir mão, pagar o preço. Ceder, pedir. Errar, aprender. Trabalhar pelo salário no fim do mês e perceber que não é só por aí. Valeu, valeu cada passo. Hoje estou feliz, me reconheço nesse espaço, sinto que faço parte de algo importante na vida das pessoas e isso faz uma tremenda diferença.

Mudar aos 40 é possível. Desse paradigma, pude sair do outro lado. Quem não tem esse fantasma? Eu também tinha. Às vezes ele me assombrava e dizia que era loucura largar tudo com essa idade! Mas que idade, ainda não estou nem começando, tenho essa sensação. Até os 96 tem muito chão pela frente. No embalo que vai, terei mais uma, duas, três vidas na mesma vida. Viver, viver, viver, isso é o que importa. Lamentar pelo que não fez é um peso e não resolve. Não temos nada além do agora e esse instante passa ligeiro. Ou vive e experimenta o novo, ou nunca vai saber o sabor. Quantas coisas deixamos de fazer e depois perdem o sentido? Foi bom, aquele era o meu momento e o coração estava aberto para perceber.

Hoje perto dos 50 anos, sinto outra mudança acontecendo. Mais intensa, mais profunda, mais madura. Que alegria perceber os ciclos da vida e render-se a eles. É um aprendizado rico estar em sintonia com o abrir e fechar das possibilidades dentro de nós. Saber que um dia queremos ir para a caverna e não brigar com isso. Não vamos ficar lá para sempre, é só uma temporada. Faz parte o recolhimento e repouso. É cíclico também. Depois a gente coloca a cabeça de fora e quer sentir o sol novamente. Dá vontade de criar, se movimentar, fazer diferente. Outro movimento, que logo vai terminar. Algo surge, algo desaparece. Sem apego, sem aversão, podemos sentir cada movimento desses com contentamento e equanimidade. 40, 50, 60 anos, tanto faz. Não somos nossa idade. Sempre é tempo de começar algo novo. Sempre criamos nossa história e reescrevemos nossas experiências. Importa é como estamos diante do que acontece. Se é o amor ou o medo que nos move. Eu escolhi o amor e foi maravilhoso!



terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

PRAZER E DOR: A ETERNA GANGORRA DA VIDA


Como lidar com isso que parece tão difícil de mudar? Essa dinâmica na vida de experimentar prazer e dor, inclusive nas mesmas situações. Em um momento nos alegramos, é tudo o que queremos; em outro, queremos fugir, acabar com tudo, desaparecer. A mesma pessoa, o mesmo vínculo é capaz de nos causar essas emoções tão antagônicas e não conseguimos deter esse processo. Prazer e dor são energias conflitantes, que se reforçam mutuamente. Quanto mais prazer, mais apego ao que gostamos. Isso leva inevitavelmente ao medo e ao sofrimento de perder esse “bem precioso”. Uma vez que nada dura para sempre, é questão de tempo. A mudança chega e traz a dor com ela pois as circunstâncias da vidas mudam a todo momento e não podemos detê-las. Aí vem a aversão, a fuga, o não querer sentir, a raiva, as compulsões e tentativas de se livrar daquilo que nos machuca.

Um dia amor, outro dia ódio, um dia alegria, outro tristeza. E vamos seguindo nessa gangorra da vida, nesses altos e baixos, sendo arrebatados pelos ventos e tempestades emocionais, sem conseguir atracar em lugar seguro. Quanto mais a intenção de conter essa dinâmica, mais preso se torna a ela. Como esse mecanismo é parte da vida, do fluir e contrair, do nascer e morrer de todas as coisas, é impossível dominá-lo e tentar deter. O que nos resta é aceitar o que vem, aceitar o que vai. Assim como as ondas do mar, contemplar a natureza da vida e encarar os fatos com mais naturalidade ao invés de querer mudar o que é. Isso traz um profundo sentimento de paz interior. Aceitar as coisas como são é sinal de amadurecimento emocional e espiritual. Abrir mão do controle e do desejo de ter as coisas do seu próprio jeito é uma forma de exercitar a tolerância e aceitação dos movimentos da vida, do ritmo e escolha do outro, do jeito de ser de cada um, do tempo de despertar que está ao alcance de todos, apesar de ser muito distante para a grande maioria.

Isso é um fato: nossa condição humana revela exatamente onde estamos. Não há a quem cobrar essa fatura pois somos nós que nos colocamos onde estamos. Transferir o problema para o outro é ilusão e perda de tempo. O problema é interno e cabe a cada um olhar, entender, assimilar, reconhecer e transmutar. É um eterno caminhar, pois a consciência tem graus infinitos; a cada passo um novo desafio, pois eles são muitos. Querer saltar os obstáculos da vida para fugir da dor não resolve. Eles permanecem guardados, arquivados e virão à tona no devido tempo. E o que é pior, chegam causando estragos! O que se reprime, torna-se sombra. Àquilo que resiste, persiste. Essa combinação da sombra com as repetições dos padrões comportamentais e emocionais formam cristalizações difíceis de serem dissolvidas. Por isso dizemos o que queremos, mas não praticamos essa intenção. Há uma tremenda distância entre entender mentalmente o problema e o que precisa ser mudado e a mudança em si. De teoria o mundo está cheio. O treinamento vai além das palavras, rótulos, repetições verbais. Um passo, depois outro, pensar diferente, fazer diferente, ser diferente, sentir, falar e agir diferente. Assim a mudança acontece. Falar apenas, não adianta.

Daí, se a mesma situação surgir, veja claramente as emoções e sentimentos que ela causa. Se é prazer, desfrute-o no momento presente, viva-o, sinta-o, mas não pense no outro dia, como será, o que vai acontecer depois.... Você não tem o outro dia, você só tem o agora. Então fique aqui com ele, sem querer fugir. Se conseguir fazer assim, boa parte do sofrimento desaparece. Muito da dor tem a ver com a mente projetada no passado ou futuro, querendo respostas e garantias de que o que é bom vai durar para sempre e o que é ruim nunca mais vai acontecer. Isso é ingenuidade, pois o controle não existe quanto se trata da existência. Nem ao menos conseguimos controlar nossa própria respiração. A maioria do tempo ela acontece alheia a nossa vontade. Quando dormimos, nem ao menos nos damos conta que respiramos e temos um coração batendo. Estamos literalmente sonhando o tempo todo. E dentro do sonho, também sonhamos que não vamos sofrer, que vamos atravessar o rio da ignorância para a sabedoria sem passar pelas tormentas e angústias que fazem parte do despertar. Se a tristeza chega, ela traz em si um ensinamento. Então aceite-a também pois ela pode ser uma bela amiga quando te revela algo importante a respeito de si mesmo. Sinta a dor sem preferências, sabendo que assim como os bons ventos passam, as tempestades e tormentas também vão passar. Nada dura para sempre, lembra?

Aceite o que vem, aceite o que vai. Ontem lá em cima, agora aqui em baixo. É assim, um eterno surgir e desaparecer. Vida e morte juntas, no mesmo momento. É tão natural isso quando olhamos a natureza, as árvores, o mar, o rio, o sol, a lua. Somos tudo isso também, não somos algo separado de tudo o que nos cerca. E contemplando a trajetória do sol desde o alvorecer ao entardecer, é possível perceber a naturalidade desse movimento. Assim também pode ser conosco. Brilhar, aparecer, crescer, apagar, desaparecer e voltar a brilhar. Não prazer, não dor, não apego, não aversão. Apenas aquilo o que é, no aqui e agora.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

O QUE VOCÊ PERDE COM O FIM DO SOFRIMENTO?




Possivelmente, tudo o que ganha com o seu sofrimento. O difícil é reconhecer que ganha alguma coisa com o sofrimento. Mas ganha, isso é certo. São os ganhos secundários, que estão ocultos, que não tem aparência de ganhos, que não são facilmente verificáveis e mais ainda, que você esconde até se si mesmo pois parecem mesquinhos e egoístas demais. Qualquer situação implica em ganho, primário ou secundário. Quando o evento em si aparenta uma perda, acaba encobrindo o ganho. Por isso o sofrimento não é visto como vantajoso para quem sofre.

Tem gente que desenvolve doença para ficar de licença saúde, especialmente se detesta o que faz e vive reclamando da sua insatisfação. Aqui fica claro o ganho. E seguindo a mesma lógica, podemos verificar outros ganhos subjacentes em nossas vidas, em menor ou maior grau. O mais importante é reconhecer que sempre há um ganho, por pior que seja a situação. Reconhecimento, atenção, amor, cuidado, privilégios, compensações, vantagens sobre os outros, etc. são algumas das formas desses ganhos.

Conforme o grau de dependência emocional, psíquica, física ou espiritual, mais difícil é reverter o processo. Com uma identidade já instalada, a pessoa se vê mergulha dentro de aspectos com os quais está identifica e isso passa a fazer parte de seu roteiro pessoal. Quando chega alguém e pergunta: como vai? Logo ela responde seu rosário de reclamações e clichês mentais de difícil dissolução. Muitos podem ver o sofrimento de fora e perceber a necessidade de algumas mudanças. Mas a pessoa envolvida dificilmente enxerga quando está identificada com a dor. A dor transforma-se em sua roupa psicológica, seu personagem, sua forma de se apresentar ao mundo.

E às vezes para sair desse emaranhado é preciso ir ao mais fundo dos abismos, depois que toda a esperança se foi, depois que nenhuma receita de bolo funcionou. Talvez nesse momento chegue o impulso real da mudança, a força de vontade, o abandono de si mesmo, a desistência do controle, da manipulação, da auto piedade. Quando culpa e culpado se fundem, tanto faz. Já não faz diferença onde tudo começou, tampouco se um dia terá fim. Quando surge um movimento novo, de apenas viver sem se lamentar, olhar e agradecer, desfrutar do que está acontecendo sem se ocupar com o vir a ser. Aqui ocorre a dissolução, o desapego, a entrega, o fim do sofrimento.

Aí o que você perde com o fim do sofrimento tem um sabor diferente, pois algo começa a preencher o vazio de sentido que permeava a vida. Você já não se importa se os parentes e amigos vão te dar menos atenção já que sua doença terminou. A face revelada é outra e o sentido também. Você pode de verdade se alegrar com outras coisas que não dava importância antes. Pode também desligar-se da tomada da intencionalidade negativa que te conduzia à avenida do lamento e escolher andar por outra rua, com outras cores e aromas. A vingança oculta se desfaz e você quer apenas amar e ser feliz, independente de circunstâncias e pessoas. O sofrimento fica para traz, como marcas num caminho necessário para chegar onde chegou. Valeu, todo aprendizado é válido, mesmo que seja por meio da dor. O importante é a cura, a mudança, a consciência alcançada.


Diante dessa possibilidade, vale a pena perder tudo!

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

QUEM ESTÁ FALANDO: A MENTE OU O CORAÇÃO?







A mente é inquieta, o coração é pacífico. A mente argumenta, o coração silencia. A mente projeta, o coração revela. Seguir a mente, cansa seguir o coração, descansa. Como saber quem está no comando, se nem ao menos nos damos conta que tem alguém que comanda e alguém que acata. É preciso perceber se a voz vem da mente ou do coração, para discernir desejos, sonhos e anseios das verdadeiras aspirações do ser.

Há uma considerável diferença entre esses aspectos de nossas vidas. Muitos dos objetivos traçados são compensações ou projeções baseadas no medo, na insegurança, no ego. Seguir os apelos da mente sem refletir ou discernir é uma forma mecânica e condicionada e nem sempre condiz com a real necessidade do momento. Fazemos tanto, de tantas formas e tão sem necessidade... Quanto tempo dedicamos àquilo que é essencial, àquilo que somente nós podemos fazer por nós mesmos, àquilo que restará depois que tudo terminar? Faça as contas dos minutos do dia que você dedica a observar o que fica depois que tudo termina. Talvez nenhum minuto sequer esteja reservado a isso em sua extensa agenda.

Estranho e assustador, não é? Basta ver quanto tempo desperdiçamos com pensamentos, palavras e ações sem sentido, repetitivos, inúteis. Viajamos no mundo imaginário e nos perdemos nos escaninhos da mente individual e coletiva, sem nos darmos conta da repetição e reprodução de conceitos, crenças e valores que não correspondem às nossas aspirações mais profundas.

Fora do silêncio e da pausa é impossível separar essas vozes em categorias e perceber as sutis diferenças entre elas. A dica é sentir como o corpo reage àquilo que é escolhido ou decidido. Se restar inquietação, angústia, peso, incerteza, é o momento de aguardar e ir mais fundo dentro de si mesmo para acessar a íntima voz do coração. Quando vier uma inspiração, mesmo que não tenha pensado nisso ainda, experimente se isso te aquieta e traz alegria. Se a leveza e tranquilidade se mantiverem presentes, siga essa voz sem hesitação. Isso muda substancialmente a forma de ser na vida: do mecanismo de defesa, para um instrumento de mudança!

Saber se ouvir, se respeitar em suas escolhas, ser fiel a si mesmo e sustentar isso com firmeza, traz muito contentamento e sentimento de estar fazendo a coisa certa, na hora certa e do jeito certo. Essa é a verdadeira liberdade que uma pessoa pode experimentar. Quando seu eu mais profundo se libera da amarras da opinião formada, dos conceitos e regras, do que o outro pode pensar, do preço a se pagar. Não há maior riqueza do que isso – a liberdade de ser o que é e a simplicidade de acolher e ficar em paz com a escolha.

Saber o que somos, como continuamos, o que prevalece e o que eterniza deveria ser a meta, o foco, a prioridade. Mas que nada, não há tempo para isso. Para muitos, tempo é dinheiro. Para mim, tempo é um tesouro, uma joia, a própria riqueza, o presente. E estar no presente, desfrutar desse entendimento e perceber as coisas como realmente elas são é o maior de todos os tesouros. Acredito que o coração fala assim, eu ouço essa voz em mim.



quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

MEDO DA MORTE




Medo ancestral, recorrente, misterioso. Difícil quem não tem, mais difícil ainda que já o superou. É um treinamento da mente, das emoções, dos conflitos internos, das crenças. Passar pela morte com a mesma naturalidade com que se passa pela vida deve ser a nossa meta. A morte é um evento tão natural quanto o nascimento, mas a encaramos ainda com tabu, sofrimento e falta de compreensão.

Se olharmos a natureza e tudo a nossa volta, perceberemos que nada é estável, que tudo é impermanente e contínuo. Assim também somos nós: impermanentes e contínuos. Seguiremos de onde paramos. Por isso é tão importante ressignificar os medos em torno desse momento para que se prossiga da melhor maneira possível.

Continuamos de onde estamos. Se temos medos, conflitos, assuntos inacabados, culpa, angústia, peso, assim será a próxima vida que seguirá, novamente dentro do mesmo padrão mental, emocional, vibratório. É bem lógico isso, não é? Da mesma forma que o universo inteiro não dá saltos, nós também não poderíamos fugir a essa regra. Obviamente que o sistema de crenças tenta burlar essa ordem cósmica e inclui evolução fora do corpo.

O crescimento acontece em ciclos e mais ciclos. Por isso vivemos fazendo promessas que não se cumprem. É preciso deter os impulsos, as reações, mudar os hábitos, fazer diferente, criar hábitos novos, trocar o combustível com o carro andando, sem causar dano à máquina. É gradativo, cheio de idas e vindas, de começos, paradas e recomeços. Faz parte da vida e de todo o sistema de adaptação em todas as espécies. Conosco, naturalmente é igual.

Legal ter consciência disso, para tirar as ilusões que encobrem esse evento. Isso me faz lembrar a historia de um Mestre Zen que disse com muita naturalidade para uma Monja, ao sair de manhã: “Quando eu voltar, você não estará mais aqui”. Veja se faz isso direito! É lindo algo tão espontâneo. Mas para nós, pode ser frio e indiferente. Apenas uma questão cultural, encarada com extrema naturalidade pelos tibetanos, que vivem o morrer a cada instante da vida e não se desesperam diante do momento de morte. Ao contrário, eles celebram. No Tibete, os lamas auxiliam os mortos em sua travessia de uma margem para outra, durante 49 dias. Esse tempo serve para guiar o “passageiro” em suas possíveis visões distorcidas no Bardo – mundo entre vidas.

Nós, ao contrário, evitamos conversas sobre a morte, o que reforça ainda mais os obstáculos que cada pessoa carrega. Naturalmente porque fomos educados de outra forma. Mas hoje é possível encarar a vida com mais franqueza, verdade, simplicidade, objetividade. Podemos a cada dia, a cada instante, experimentar um tipo de morte em nós. Sentir a morte de várias maneiras, a morte de uma mente, de uma emoção, de um apego, de uma crença. Deixar morrer opiniões, formas de ver a vida, entendimentos, conhecimentos, julgamentos, distorções, críticas, desequilíbrios. Morrer para a tristeza, a derrota, o pessimismo, o preconceito. Morrer e morrer para aquilo que não serve mais, deixar ir, viver aqui, acordar. Abrir os olhos, ver a vida em tudo, a beleza, o colorido, o pulsar inesgotável, a energia constante. Sentir que isso não cessa e se não cessa, não há o que temer. É um sopro, um suspiro, uma brisa leve. Inspira, expira, aqui e agora. Assim, logo após a morte, será agora novamente. É a vida que segue, sempre segue, não há morte então. Se há vida sempre, a morte é a nossa grande ilusão.


sexta-feira, 26 de setembro de 2014

O BAJULADOR, o que ele quer?







Sabe aquele agradador, que sempre está querendo aprovação e reconhecimentos das pessoas, fazendo tudo certinho, sendo bonzinho e atencioso? Pois é, tem muita gente que é assim e nem percebe esse eu que está querendo sempre agradar. Comportamentos assim têm desdobramentos bem profundos e merecem atenção. Às vezes há gravações antigas no psiquismo que marcaram a pessoa e a deixaram profundamente ansiosas para não ficarem sozinhas novamente, serem abandonadas ou condenadas por suas ações. Daí elas desenvolvem esse mecanismo que encobre a sua ferida, mas que de alguma maneira traz a sensação de que sendo assim, as pessoas não irão abandoná-la novamente.

Normalmente o bajulador é um medroso, ansioso e inseguro. Se alguém se comporta ou o trata diferente, ele logo pensa que é o responsável por isso. E aí fica de pé em pé tentando entender o que fez de errado para consertar e voltar a se sentir aceito. Pessoas assim carregam máscaras bem condicionadas sobre esse dar e receber atenção. Treinaram isso ao longo da vida e tornaram-se especialistas em forjar situações de agrado, de manipulação do outro e de se colocar à disposição, sendo de tal forma tão solícito, que todos o consideram alguém especial. No fundo é isso que ele quer: ser amado e aceito. No entanto, encobre aspectos do seu eu escondidos até dele mesmo. Não adianta fugir desse encontro com a verdade pois nada poderá satisfazê-lo plenamente, a menos que encontre suas feridas mais profundas e as encare para libertar-se delas.

O eu agradador muitas vezes quer essa aprovação externa pois ele mesmo não consegue fazer isso por si. Se carrega memórias passadas de auto condenação e auto julgamento, ou seja, se pisou na bola com vontade e depois se arrependeu, anseia por uma reparação de seus erros. Uma das formas de fazer isso é ser o bonzinho e a vítima, ocupar o lugar de quem ele machucou e feriu no passado. Isso não precisa necessariamente ter sido nesta vida. Muitas pessoas já se justificam dessa forma dizendo que nunca fizeram mal a ninguém. Não importa em que tempo isso ocorreu. O que importa é a necessidade de aprovação e de reparação que a pessoa carrega e nem sabe por quê. Fazer o bem dessa maneira não resolve. O que resolve é o amor, o perdão, a auto liberação. Começa com o reconhecimento, o encontro com a verdade que estava escondida e depois, com a compreensão de que não foi possível fazer diferente enquanto pensava daquela forma e tinha seus motivos. Agora, no presente, com a consciência que tem hoje, a pessoa provavelmente não faria o mesmo. Então, para quê ficar remoendo e transferindo para os outros a responsabilidade de “apagar” o mal? O mal somente se apaga quando a luz da consciência chega. E para chegar, é preciso querer ver a verdade, que nem sempre é fácil de ver. Especialmente se a verdade for o oposto daquilo que a pessoa quer ser.


A sombra é assim, tem um gosto amargo. Quem está disposto a provar esse sabor? Bem poucas pessoas, acredito. Mas do amargo se faz o mel, pois com esse enfrentamento doloroso, logo virá um grande alívio da alma, um frescor, um leveza indescritível. O amargo fica para trás e o doce da vida pode ser vivido com alegria e gratidão, com beleza e amorosidade. Se tem um eu assim escondido por aí, decrete o seu fim, pois ele não é real. Quando houver o florescimento da consciência, o amor fluirá de tal maneira que não há mais a intenção de agradar o outro ou o esforço nesse sentido. Você se torna o amor, a palavra doce e amiga, o olhar fraterno e suave, o calor e a compaixão. Não tem mais ninguém ali tentando ser esse eu. Toda tentativa de se tornar alguém já desapareceu. É fácil, leve, sem controle ou intenções. Tudo flui e nada que faça tem aquele gosto amargo ou a velha e antiga dúvida: será que eu errei?  Tudo desaparece e você se sente livre para ser quem você é, até nos seus “erros” e “defeitos”. É uma aceitação do ponto onde você está, sem retoques ou verniz. Você é o que é e pronto. Simples assim. 

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

CRESCER A PARTIR DO OUTRO




É muito bom quando chega esse momento em nossa vida, de aprender e crescer a partir do outro. Quando estamos finalmente comprometidos em buscar em nós aquilo que nos incomoda no outro. Quando a sinceridade na tentativa de se ver a partir do outro é mais forte do que o desejo de achar o culpado fora. A satisfação é grande e a gente libera o outro para ser do jeito que ele é dentro das escolhas que ele pode e consegue fazer. Assim como nós, pois nem sempre conseguimos ser e fazer o que nos propomos.

São tantas amarras e bloqueios que nos impedem de soltar o velho e conhecido padrão de repetir nossas feridas, que dificilmente aprendemos de primeira e superamos nossos medos mais profundos: não ser amado, não ser bom o suficiente, não ser aprovado. Passamos muito tempo perdidos em tentativas de nos tornar melhor do que somos. Forjando um eu superior, mais completo e consciente, que finalmente vai se libertar da sombra, dos comportamentos não aceitos, reprovados, repudiados, reprimidos. Há muito esforço nisso e um esgotamento com os fracassos dessas tentativas de se tornar perfeito.

Acreditamos que nesse dia, quando alcançarmos a perfeição, vamos finalmente conseguir amar a todos e ser amado sem ressalvas. Como nos enganamos, nos desrespeitamos e nos agredimos nesse esconde-esconde dos vários eus dentro de nós. Perguntamos quem somos de verdade, achamos que somos uma coisa e fazemos outra completamente diferente. Essa luta por se tornar alguém perfeito é tão antiga quanto a humanidade. Na comparação com Deus, o homem quer ocupar esse lugar e faz de tudo um pouco para convencer-se de que é Divino. O problema é que somente ele quer ser Divino e para isso, o outro precisa ser alguém menos que ele. Aí é que está o núcleo da dor.

Movidos pela ambição do reconhecimento pela divindade e perfeição, somos levados a comparação e julgamentos que nos separam dos outros. Queremos ser bons e perfeitos e para isso, é preciso ter um parâmetro que meça essa condição. O parâmetro que encontramos é o outro, as pessoas com as quais nos relacionamentos.  Então começa o jogo de quem sabe mais, quem é melhor, mais inteligente, capaz, criativo, sincero, verdadeiro, amoroso e por aí vai. E claro que a comparação será sempre a de que o outro é menos que nós. Senão, não é possível a confirmação de que realmente somos bons e perfeitos.  Esse é o nosso maior engano, nossa maior ilusão e estamos mergulhados dentro dela há muito e muito tempo.

Ora, se o outro é nosso espelho, ele deve ser visto assim: divino e perfeito. Mesmo apresentando uma couraça e uma máscara de mentira que o esconde, é preciso enxergar além da ilusão está encobrindo o outro. É preciso atravessar a camada densa de mentira que o encobre e perceber que lá no fundo existe alguém tão bom, perfeito e divino quanto nós. Se conseguirmos superar o medo e a ambição de nos tornarmos alguém separado do outro, podemos nos libertar do maior sonho que nos mantém adormecidos pela eternidade. Esse sonho é o sonho da separação, de que somos diferentes, de que o outro não tem nada a ver conosco, de que somos independentes e autônomos, de que ele faz as escolhas dele e de que nós fazemos nossas escolhas, mais conscientes, obviamente.

Sempre tem esse mais que nos separa. Esse eu sou mais que o outro que buscamos e nos empenhamos em alcançar. Não nos contentamos em sermos iguais, em fazer parte do todo, em sermos uma parcela. Queremos ser o todo, ser aquele que alcançou a perfeição, a iluminação. Dessa forma, será preciso outra eternidade para esse dia chegar.

Para não perdermos nosso tempo, já que ele é um presente, vamos começar pelo ponto de nossa separação. Ver que o outro é uma parcela que optamos por manter separada de nós, que não queremos admitir que temos ou sentimos vergonha ou raiva de ser assim. Crescendo a partir do outro, vamos dessa forma deixando a ilusão da separação e acordando para nossa realidade mais profunda. Vamos sentir que tudo é uma coisa só, que não existe melhor ou pior, mais ou menos. Tudo é um, está conectado, relacionado, fazendo parte. Somos na verdade um com o outro e não podemos deixar de ser.


terça-feira, 2 de setembro de 2014

O MUNDO DOS ESPELHOS



Por onde a gente olha nossa imagem está refletida. Infelizmente esse olhar ainda é muito projetado para o outro e na verdade não enxergamos que é nossa imagem ali. Ainda temos o hábito do julgamento, da crítica, da lamentação e de colocar a culpa fora de nós. Isso acontece especialmente quando vemos aquilo que nos incomoda, nos agride, nos causa indignação ou revolta. A comparação é inevitável e o senso de que eu sou melhor que o outro aparece com força total. E a lista de julgamentos e justificativas confunde a nossa mente e nos identificamos com a imagem de um eu superior ao outro, pois é diferente nisso e naquilo, faz as coisas corretamente, com mais consciência, etc. Ledo engano. Lamentável mesmo, pois em tudo há espelhamento, nas coisas boas e nas coisas não agradáveis de ver.

Imaginar que todas as pessoas são reflexos nossos é um desafio e tanto, pois render-se aos aspectos negados, ocultos, escondidos até de nós mesmos, exige coragem. Ver no outro aquilo que odiamos é fácil, quero ver se consegue admitir que existe um eu soterrado em você que é igual àquilo que mais rejeita ou desaprova. Quando isso acontecer, basta se perguntar sinceramente sobre a razão do seu desconforto, da sua ira ou descontrole com a situação que se apresenta e altera sua emoção ou energia. Ora, se isso te incomoda, deve haver uma razão a mais e vale a pena investigar melhor. Olhando com os olhos da verdade é possível reconhecer os aspectos semelhantes das atitudes, talvez em outra área de sua vida. Se não reconhecer de jeito algum, os conteúdos estão escondidos no porão do subconsciente e por isso não consegue ver com mais clareza. Mas pode ter certeza, se te incomoda tal situação, isso é seu.

Personalidades forjadas com caráter e moral duvidosos, normalmente carregam culpa e arrependimento, mesmo que tardiamente. Em algum momento chega o discernimento para a pessoa e algo toca o coração a fazendo repensar a vida. Mesmo que demore algumas vidas. Pode vir também um orgulho ferido que impede a rendição e o processo de negação, culpa, vitimização ou transferência. Quanto mais negação, mais escondido se torna, até o momento do “esquecimento”. Esse esquecimento é parcial, obviamente, pois aquilo que está guardado no subconsciente não desapareceu, apenas está oculto. Mas fica vibrando a mesma energia e força, como uma panela de pressão, que poderá explodir a qualquer momento. E é exatamente isso que ocorre, quando se tem uma reação descontrolada motivada por algo aparentemente normal. Reagir presume que há algo incompleto, inacabado, não integrado em si mesmo. É um bom termômetro se houver disposição para o auto enfrentamento.

O mundo dos espelhos, feios ou bonitos, depende dos olhos de quem ver. A lente é responsável pela leitura. Ou troca a lente pra ver as coisas como elas são, ou vai passar a vida tentando mudar o mundo ou brigando com ele, sem resolver o problema. Seja você a mudança que quer ver no mundo, não é assim? Essa mudança tem a ver com limpar em você os registros ou as referências que causam o desequilíbrio e desarmonia no outro. Talvez hoje você não seja uma pessoa agressiva, mas quem em você já foi assim ou acionou isso no outro, em qualquer tempo ou espaço? São questionamentos bons de se fazer. Ora, por que isso me afeta tanto, por que esse jeito da pessoa ser me incomoda, por que eu estou sentindo isso em relação a ela? Se eu vi, me incomodei, me irritei, é minha imagem refletida na situação. Então devo admitir que contrariei a ordem ou a lei do universo em algum momento, mesmo que eu não saiba disso ou me recorde. Não é preciso recordar, basta reconhecer e querer curar e limpar isso em si mesmo. Pontos de ódio, de orgulho, da ganância, de apego podem ser liberados através da respiração, da meditação, deixar ir, perdoar, abrir-se, soltar.


Ver o outro como a si mesmo, sentir compaixão pela dificuldade ou ignorância, ter tolerância. Começar assim é um bom começo. Fazer uma troca de percepção, uma transferência positiva, se colocar no lugar da pessoa, na pele dela. Talvez eu já tenha feito igual ou pior, ter coragem de admitir isso - eu sempre faço esse exercício. Sentir que o outro não é tão separado assim, que existem semelhanças. Mudar sutilmente a percepção e ver além da lente que reage e condena. Ao se ver na situação, como um reflexo no espelho da verdade que o momento enseja, algo mágico pode acontecer e os olhos podem começar a ver beleza no mundo que estava encoberta. 

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

QUANDO A VIDA SORRI PARA VOCÊ






























É quando você sorri para ela. Quando pára de reclamar tanto e agradece mais. Quando aceita as coisas que acontecem em sua vida como suas criações, sejam conscientes, ou inconscientes. Quando realiza seu nirvana, que é ser feliz nesse agora, com o que tem, com suas possibilidades, com o que dá conta de fazer no momento. Quando percebe que não existe acaso, que tudo está interligado e que se chegou onde está, as pessoas, as circunstâncias, o universo inteiro fez parte disso. Então, é preciso agradecer mesmo, mais ainda, pois você não fez nada sozinho. Somos coautores de tudo ao nosso redor. Se o mundo, as pessoas, os relacionamentos são como são, fazemos parte disso de maneira direta, com nossos pensamentos palavras e ações. Então não há o que reclamar ou julgar. Se é desse jeito, eu criei dessa forma. A insatisfação é inútil, pois em outras palavras, é uma autocondenação por aquilo que fiz ou participei com minha mente.

No momento em que percebe que a vida lhe sorri a dinâmica já mudou. Houve uma mudança de lugar. Do lugar de julgador, do eu separado de tudo e de todos, começa a surgir um eu unificado, pertencente, presente. Ultimamente tenho sentido isso e percebo que a consciência do agora ancora o contentamento sem causa aparente. Quando minha mente divaga e busca ocupar-se com algo no futuro ou no passado, sinto que uma pressão interna ocorre, certa angústia e incerteza se instalam. Esse é o ponto de alerta para mim. Logo volto a atenção para o agora, para o que estou fazendo e novamente sinto quietude e leveza. Dessa forma, percebo claramente que o sofrimento está dentro da mente, dentro dos pensamentos e especialmente dentro de uma linha do tempo invisível do passado ou futuro. Isso obviamente é ilusão, mas a mente acredita nela.

Viver o agora é uma prática. Essa mudança exige esforço e persistência até que a mente vacilante perca a força aos poucos e não te domine mais. No início é dessa forma e o caminho é aguçar o senso de eu observador na vida, nos comportamentos nas emoções que são vivenciadas. Fazer uma breve síntese do seu dia, uma reflexão sobre os momentos desarmônicos, a instabilidade e as ondas de inquietação. Sem julgar, apenas observar que isso surgiu e não se apegar ou se deter aí. Prossiga, continue apenas observando e sentindo no coração que essa manifestação da personalidade não é você de verdade. Se houver auto exigência, o ego entrou pela porta dos fundos e está tentando te enganar. Até mesmo a vontade de ser bom, ser perfeito, fazer as coisas da melhor maneira possível é criação do ego que deseja ser melhor que os outros. Quando percebo que isso está acontecendo comigo, imediatamente solto aquela massa de energia em volta de mim, relaxo e procuro rir da situação. É um santo remédio!


E a vida segue sorrindo para você. Sorri mais ainda quando divide o seu tempo com os outros de maneira desinteressada, quando deixa que o bem se mova através de você, quando partilha, faz pelo outro, esquece-se de si mesmo. Esse é um momento de amadurecimento espiritual e de muitos desafios internos também, pois ainda tem um eu querendo lutar contra essa entrega. Você pode experimentar avanços e recuos em direção ao outro. Ora você sente-se aberto (a), ora fechado (a). Em um momento você doa e nem percebe, em outro sente medo e quer segurar. Essa etapa requer tolerância e paciência, pois o fluxo da doação ficou muito tempo represado, que sair, mas os muros não deixam. As fronteiras do egoísmo, orgulho, egocentrismo, vaidade, vão tentar opor-se à entrega e será uma luta. A compaixão e a sabedoria ajudam a dissolver essas camadas. Esses atributos estão disponíveis, são qualidades primordiais emanadas pelo Budha. Estão ao nosso redor o tempo todo. Podemos acessá-las com o nosso coração, respirar essa vibração e deixar entrar em nosso sistema. Podemos começar a vibrar isso também. A força da compaixão e da sabedoria dissolvem os véus de ignorância que nos mantém separados, em sofrimento, presos a padrões cristalizados. Cabe-nos acessar essa frequência com nossa intenção. Inspirar, sentir que ela sempre esteve ali, somente não a percebíamos. Voltar a fazer parte, unir-se, fundir-se com o todo, tornar-se a própria vida sorrindo. 

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

QUANTO CONFIAR?




Em muitos aspectos a confiança é um bloqueio para muitos de nós. Normalmente acontece um mecanismo de defesa que nem sempre é consciente e a pessoa se vê controlando a capacidade de confiança nos outros, na vida, nos relacionamentos. Parece que sempre tem algo à espreita, prestes a puxar o tapete se eu não cuidar de me proteger, pensam alguns. E aos poucos, um mecanismo regulador do tipo contabilidade de quem confiou mais e se doou entra em ação. E a pessoa fica refém desse sistema precário, que provoca ainda mais ansiedade e ativa os medos inconscientes a respeito da entrega.

Confiar é soltar, sair do controle, entregar, abrir mão. Será que você consegue fazer isso apenas olhando nos olhos de alguém que acabou de conhecer? Difícil, né? E é difícil pois raramente as pessoas olham nos olhos, ficam se esquivando do olhar do outro e pouco acessa a profundeza e a sinceridade que somente o olhar é capaz de revelar. Faça um teste: olhe nos olhos da pessoa firmeza e veja se ela sustenta o olhar. Se sustentar, pode confiar. Não é possível mentir com os olhos, ocultar e mostrar aquilo que não é. Com os olhos, revelamos emoções, sensações e um retrato da nossa alma, nossos registros mais profundos. Essas janelas da alma guardam arquivos que somente a pessoa é capaz de saber e se nos abrimos para olhar o outro nos olhos, podemos fazer uma troca incrível, com tamanha sinergia que as palavras simplesmente desaparecem diante da grandeza desse encontro.

Quando a vida pede a entrega é a hora de você dizer o quanto está pronto para viver a experiência que a existência está proporcionando. Às vezes o que a vida pede é um salto no escuro, no vazio, sem nenhuma garantia. Neste caso, há que se ter muita abertura de coração para saltar no vazio. Especialmente se esse vazio representa a vastidão dos seus próprios medos. Mas aí é que está o poder: se lançar em direção ao maior medo até desmitificá-lo, atravessar o medo e deixá-lo para trás, como uma sombra. O medo de perder, de não dar certo, de fracassar, de ficar só, de não conseguir mais uma vez aciona todos os nãos à entrega e à confiança. Se você os tomar como sinalizadores de seu sistema de defesa, poderá perder uma tremenda chance de superar essa fragilidade e esse mecanismo reativo diante da vida.

A única maneira de experimentar a confiança no fluxo da vida é abrir mão do controle, sair da frente da existência, parar de imaginar e contar para si mesmo que isso ou aquilo é o melhor para você. Como pode saber se é o melhor ou não se nem ao menos se conhece como deveria? Somente uma dimensão bem mais profunda que a da sua personalidade sabe exatamente o que é melhor. E a vida não vai te pedir nada menos que isso para que saia da sua zona de conforto e se solte dos troncos e raízes na beira do rio para experimentar a força e energia das águas te levando em direção ao oceano. Vai te pedir a entrega, a confiança de que irá te acontecer aquilo é para o seu bem. No final, as experiências sempre trazem crescimento pessoal, mesmo machuque, cause dor e sofrimento. Mas isso também às vezes acontece por causa da teimosia em mudar, abrir mão ou sair do lugar. Até chegar a resiliência, leva um tempo, que é do tamanho da rigidez. Quanto mais rígido, inflexível em suas verdades e crenças, mais demorado o processo. E tudo bem, já que é você mesmo que se coloca nas situações da sua vida. Ao menos é um consolo a quem já entendeu que nada é por acaso e que o mundo não é responsável pelos seus problemas. Você os cria, você os resolve, no seu tempo. Quanto poder há nisso! É um tremendo poder compreender que tem a possibilidade de reverter o quadro, mudar de lugar, deixar de ser água parada, tornar-se fluxo. E neste fluxo, sentir que não está sozinho, que toda a existência caminha junto e cuida de você, que o universo inteiro se move, que as pessoas te apoiam se você pedir e deixar.

Quanto confiar? Até o tamanho da sua alma, das suas asas, do seu coração, até o infinito, pois nem o céu é o limite.